Novo protocolo de comunicação anónima

A informática, bem como a Internet, estão em (r)evolução constante, como tal, devido às recentes descobertas das vulnerabilidade em protocolos de comunicação alegadamente seguros, a comunidade envolvida com privacidade da informação têm vindo a desenvolver alternativas que possam contribuir para que o direito básico da humanidade seja respeitado: a privacidade.

David Chaun é cientista na área da criptografia com basta experiência na área, tendo contribuído com algumas das suas ideias e conceitos em projetos como ToR, HorNet ou o I2P. Pretende agora criar um novo protocolo de comunicação segura que, segundo este, será realmente impenetrável.

No início do ano, na conferência de “Criptografia Real World” na Universidade de Stanford, Chaum apresentou um PDF  chamado “cMix: Anonymization por High-Performance Mistura Scalable”, em que descreve o conceito cMix. O documento apresenta também o PrivaTegrity, uma rede segura para comunicações anônimas, baseado no protocolo criptográfico cMix.

Nos últimos anos, Chaum tem trabalhado, juntamente com parceiros, no protocolo cMix bem como no projeto PrivaTegrity. O principal objectivo é fornecer aos seus utilizadores uma ferramenta de comunicação criptografada que não é possível ser decifrada por agências de segurança ou hackers.

É esperado que esta nova rede seja mais segura em comparação com Tor e I2P, bem como mais rápida para que não se perceba atrasos na sua comunicação.

Ao contrário da rede Tor, que é suscetível a ataques de análise de tráfego por causa de seu tamanho e tempo de mensagem não-uniforme, a cMix pretende eliminar esses problemas e torna impossível identificar os participantes.

O novo protocolo evita operações de chave pública em tempo real pelos emissores e garante que as entradas/saídas passem através de uma cascata de nós misturados. A entrada é criptografada usando a chave de mensagem do emissor, que é compartilhada com cada nó e o emissor também configura uma chave partilhada de longo prazo separadamente com cada nó cMix.

Simplificando, cada nó atribui um slot para cada mensagem que ele pode processar e depois da mensagem ser criptografada e enviada pelo emissor, cada nó usa pré-computação para atribuir um valor aleatório para cada slot e cifra os dados recebidos usando a chave pré-compartilhada e o valor aleatório gerado. No processo inverso, quando o nó tem de enviar os dados para o receptor, cada nó de volta multiplica as chaves partilhadas. A maioria das operações computacionais são realizadas no lado do servidor e não no cliente, o que elimina as operações de chave pública em tempo real e melhora o desempenho.

A rede PrivaTegrity também se destina a estabelecer um modelo de confiança que oferece um equilíbrio de anonimato e responsabilização, segundo o jornal. De acordo com a Wired, o projeto está atualmente em sua infância, ainda com uma versão alfa disponível no Android e trabalhando como um software de mensagens instantâneas no momento, mas deverá ganhar recursos de partilha de ficheiros num futuro próximo.

Para além disso, a rede PrivaTegrity terá uma backdoor controlada e integrada que deverá permitir a identificação e quebra da privacidade e do anonimato, bem como de utilizadores que fazem coisas “más” . Assim que a rede estiver configurada e funcionando definitivamente, haverá nove administradores de servidores que formam um conselho no controlo da backdoor, que também irão decidir quem será identificado como tendo feito algo “mau ou ilegal”. Os nove administradores teriam de estar em pleno acordo quanto à decisão de revelar os dados privados de maus atores, sendo que só será possível decifrar a informação se todos os nove servidores cooperarem.

Um protótipo da rede será executado na rede da Amazon, mas a versão final da PrivaTegrity terá todos os seus servidores fora dos Estados Unidos da América, evitando, assim, a vigilância do governo americano. Esses servidores serão colocados em países com governos democráticos, como a Suíça, o Canadá, Islândia, entre outros.

Fonte: Suporte Ninja

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Fundador do Pirate Bay: “Eu desisti”

Peter Sunde, um dos fundadores e porta-voz do The Pirate Bay aceitou, no passado dia 11 de Dezembro, dar uma entrevista ao site Motherboard. Sunde partilhou a sua opinião sobre o actual estado da Internet, da falta da liberdade e da completa indiferença das pessoas.

“A internet está uma merda, hoje. Está estragada. Esteve provavelmente sempre estragada, mas nunca esteve tão mal.”

A conversa de Joost Mollen, autor do artigo com Peter Sunde não começou de forma optimista. E há boas razões para isso: nos últimos dois meses, a cultura pirata demonstra pesados sinais de derrota na batalha pela Internet.

No último mês vimos a Demonii desaparecer. Era o maior tracker de torrents na Internet, responsável por mais de 50 milhões de trackers anualmente. A MPAA conseguiu também desligar a famosa equipa YIFY juntamente com o Popcorn Time. Cá por Portugal, todos os meses dezenas de sites estão a ser bloqueados por ordem de organismo privado e sem qualquer intervenção judicial.

Embora pareça que os piratas estejam ainda a lutar nesta batalha, Sunde afirma que a realidade é mais definitiva: “Já perdemos.”

Em 2003, Peter Sunde, juntamente com Fedrik Neij e Gottfrid Svartholm lançaram o Pirate Bay, um site que se veio a tornar o maior e mais famoso site de partilha de ficheiros no mundo. Em 2009, os três fundadores foram julgados num caso controverso onde foram considerado culpados de “ajudar [outros] a cometer violações de direitos de autor.”

Parem de tratar a internet como se fosse algo diferente, e comecem a focar-se em como querem que a vossa sociedade seja.

Motherboard: Olá Peter, estava a pensar perguntar-te como estão a ir as coisas, mas claramente não estão bem.

Peter: Não, não vejo nada de bom acontecer. As pessoas contentam-se com pouco.

Olha para a lei da Neutralidade da Internet na Europa. É terrível, mas as pessoas estão contentes e dizem “podia ser pior”. Esta atitude é errada. O Facebook leva a Internet para África e para outros países pobres, mas eles apenas dão acesso limitado ao seu próprio serviço e fazem dinheiro com pessoas pobres. E conseguem apoio dos governos para o fazer, visto que eles fazem excelente marketing.

A Finlândia tornou o acesso à Internet num direito humano à uns tempos. Foi uma boa jogada da Finlândia. No entanto, é a única coisa positiva que vejo de qualquer país no mundo relativamente à Internet.

Então, o quão mau está o estado da internet livre?

Bem, nós não temos uma internet livre. Não temos uma internet livre à bastante tempo. Portanto, não podemos falar sobre internet livre porque já não existe. O problema é que ninguém para ninguém. Estamos a perder privilégios e direitos constantemente. Não estamos a ganhar nada em lado nenhum. A tendência tem sido apenas unidirecional: uma internet mais fechada e mais controlada. Isto tem um grande impacto na nossa sociedade. Porque a sociedade é um espelho da internet. Se tens uma internet mais oprimida, tens também uma sociedade mais oprimida. Isso é algo em que nos devíamos focar.

Mas ainda se pensa na Internet como um novo tipo de Faroeste, que as coisas ainda não estão nos conformes e por isso não nos preocupamos porque vai tudo ficar bem, de alguma forma. Mas não é bem o caso. Nunca se viu tanta centralização, extrema desigualdade e extremo capitalismo em nenhum sistema antes. Mas de acordo com o marketing feito por pessoas como Mark Zuckenberg e com empresas como a Google, o objectivo é ajudar a internet livre e difundir a democracia, etc. E ao mesmo tempo, eles têm monopólios capitalistas. É como confiar que o inimigo vai ter boas ações. É bizarro.

Pensas que é por as pessoas não considerem a internet como algo real, ou um sítio real, que se preocupam menos com o seu bem estar?

Bem, uma coisa é certa, temos vindo a crescer a perceber a importância das coisas como uma linha telefónica ou a televisão. E se começássemos a tratar as nossas linhas telefónicas ou os canais televisivos como tratamos a internet, as pessoas iam ficar chateadas. Se alguém te diz que não podes ligar a um amigo ias perceber que é uma coisa bastante má que está a acontecer. Entendemos os nossos direitos. Mas as pessoas não sentem isso com a Internet. Se alguém te diz que não podes usar o Skype para isto ou para aquilo, não tens a sensação que é sobre ti em particular. Não vês ninguém a espiar-te, não vês nada censurado, não vês quando alguém apaga resultados das pesquisas do Google. Eu acho que esse é o maior problema para conseguir obter atenção das massas. Se não vês os problemas, não te sentes ligado a eles.

Eu preferia não me preocupar com isso. Porque é muito difícil fazer algo sobre isso e não te tornares num paranóico das conspirações. E não queres ser assim, por isso desistes. Acho que isso é o que as pessoas pensam.

Do que é que desististe, exactamente?

Desisti da ideia que podemos vencer esta batalha pela Internet.

A situação não vai ser diferente porque aparentemente isto é algo que as pessoas não estão interessadas em corrigir. Ou nós não conseguimos que as pessoas se interessem o suficiente. Talvez seja um pouco de ambos, mas é este tipo de situação em que estamos, por isso é inútil fazer algo em relação a isso.

Tornamo-nos, de certa forma, o Cavaleiro Negro d’O Santo Graal dos Monty Python. Temos apenas metade da nossa cabeça de sobra e ainda estamos a lutar, ainda pensamos que temos hipótese de ganhar.

Então o que podem as pessoas fazer para mudar isto?

Nada.

Nada?

Não, acho que já chegamos a esse ponto. Acho que é realmente importante que se perceba isto. Perdemos esta luta. Temos que admitir a derrota e ter a certeza que na próxima vez percebemos porque é que a perdemos para termos a certeza que não volta a acontecer e que ganhamos a guerra.

Desisti da ideia que podemos vencer esta batalha pela Internet.

Certo, então de que se trata esta guerra e o que podemos fazer para a vencer?

Acho que para ganhar a guerra primeiro temos que entender por o que estamos a lutar, e para mim é claro que estamos a lidar com uma questão ideológica: o capitalismo extremo que se vê actualmente, os lobbies poderosos existentes e a centralização de poderes. A internet é apenas uma peça de um puzzle maior.

E outra coisa com o ativismo é que é preciso obter-se momento e atenção. E nós somos muito maus nisso. Conseguimos para o ACTA, mas depois este regressou com um nome diferente. Nessa altura, já tínhamos usado todos os nossos recursos e atenção publica.

A razão pelo que o mundo real é o alvo maior, para mim, é porque a Internet é uma emulação do mundo real. Estamos a tentar recrear esta sociedade capitalista que temos actualmente, na Internet. Portanto a Internet tem sido principalmente combustível para o fogo capitalista, ao fingir de certa forma que é algo que liga todo o mundo mas que na verdade tem planos capitalistas.

Olhemos para as maiores empresas no mundo: são todas na Internet. Olhemos para o que elas vendem: nada. O Facebook não tem produto. Airbnb, a maior cadeia de hotéis do mundo não tem hotéis; a UBER, a maior companhia de taxi do mundo, não tem nenhum tipo de taxi.

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A quantidade de empregados nestas companhias é a mais pequena de sempre enquanto os lucros, por outro lado, os maiores. A Apple e a Google estão a passar as companhias petrolíferas sem grandes dificuldades. O Minecraft foi vendido por 2.6 mil milhões e o WhatsApp por 19 mil milhões. São quantias absurdas de dinheiro por nada. É por isso que a internet e o capitalismo estão tão apaixonados um pelo outro.

Disseste-me que a Internet está estragada, que esteve sempre estragada. O que é que queres dizer com isso e podemos culpar o capitalismo extremo?

Bem, o que é certo é que a Internet é muito estúpida. Funciona de uma maneira muito simples e não precisa de nenhum ajustamento para a censura. Por exemplo, se um cabo for cortado, o trafego passa por outro lado qualquer. Mas graças à centralização da Internet, a (possível) censura ou tecnologias de vigilância tornam-se muito mais difíceis de contornar. E como a Internet foi uma invenção americana, estes ainda têm controlo sobre ela e a ICANN pode forçar qualquer domínio de topo de países a ser censurado ou desligado. Isto, para mim, é um desenho estragado.

Mas a internet sempre esteve estragada, nós é que nunca nos importamos, porque sempre houve umas quantas boas pessoas que garantiam que nada de mal acontecia. Mas acho que essa é a ideia errada. O melhor é deixas que as coisas más aconteçam o mais rápido possível para que possamos corrigi-las e ter a certeza que não voltam a acontecer no futuro. Estamos todos a prolongar esta falha total inevitável, o que não nos ajuda, de todo.

Nós não temos uma internet livre. Não temos internet livre à bastante tempo.

Então, devemos apenas deixa-la rebentar e arder, pegar nas peças e recomeçar de novo?

Sim, com o foco na grande guerra contra este extremo capitalismo. Eu não pude votar, mas estava a torcer para que a Sarah Palin ganhasse as últimas eleições dos EUA. Quero que ganhe o Donald Trump este ano. Pela razão de que vai lixar o pais tão mais rápido do que se ganhar um Presidente menos mau. Todo o nosso mundo está focado em dinheiro, dinheiro, dinheiro. Esse é o maior problema. É por isso que tudo se lixa. Esse é o alvo que temos que corrigir. Temos que ter a certeza que temos um foco diferente na vida.

Possivelmente, a tecnologia vai-nos dar robôs que nos irá tirar todos os empregos, o que vai causar uma série de desemprego massiva, algo como 60 porcento. As pessoas vão ficar muito infelizes. Isto seria óptimo porque pode-se ver finalmente o capitalismo a cair forte. Vai haver imenso medo, sangue corrido, e vidas perdidas para chegar a esse ponto, mas acho que a única coisa positiva que vejo, é que vamos ter um colapso total do sistema no futuro. Espero que o mais rápido possível. Prefiro que seja quando tiver 50 do que quando tiver 85.

Isso soa-se muito com uma revolução Marxista: uma queda total do sistema capitalista.

Sim, eu concordo completamente com isso. Sou socialista. Eu sei que Marx e o comunismo não funcionaram antes, mas acho que no futuro temos a possibilidade de haver um verdadeiro comunismo e igualdade no acesso às coisas para todos. A maioria das pessoas que conheço, sejam comunistas ou capitalistas, concordam comigo nisto, porque percebem o seu potencial.

Portanto, existe algo concreto que nos devemos focar? Ou temos que apontar para uma nova forma de pensar? Uma nova ideologia?

Eu penso que nos devemos focar que a internet é exactamente igual à sociedade. As pessoas podem não entender que não é uma boa ideia ter todos os nossos dados e ficheiros no Google, Facebook e servidores de empresas. Todas essas coisas precisam de ser comunicadas pela elite política, claro. Mas temos que parar de tratar a internet como se fosse uma coisa diferente e virar a atenção para como queremos que a nossa sociedade seja. Temos que corrigir a nossa sociedade antes de corrigir a internet. É a única coisa.

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